domingo, 14 de junio de 2009

Os Sete Pecados


Relevância

Para falar sobre pecado, temos que começar concordando com o teólogo holandês Louis Berkof de que “O pecado é um dos mais tristes fenômenos da vida humana, e também o mais comum. Faz parte da experiência comum da humanidade e, portanto, impõe-se à atenção de todos os que não fecham deliberadamente os olhos para as realidades da vida humana”. Talvez nem todos concordem com a idéia de pecado, mas não podemos evitar o tema em nenhum âmbito da nossa existência.

O Pecado

Biblicamente, o pecado é a falta de conformidade com a lei de Deus ou a transgressão da mesma, a qual foi dada com regra para toda criatura racional. O pecado também é o mal numa categoria específica, o que significa que o pecado não é o mal em si mesmo, porque uma enfermidade pode ser considerada um mal físico, mas não está no campo da ética. Em outras palavras, podemos dizer que o pecado é um tipo de mal, o mal moral, contrastando com o bem moral.

As palavras que a Bíblia usa para se referir ao pecado indicam essa relação moral do pecado. Essas palavras trazem a idéia de desvio do caminho correto, falta de integridade, revolta ou recusa a uma autoridade legítima, infidelidade, traição e fuga da lei. Todas estas palavras indicam que o pecado é a transgressão da moral e intencional da lei de Deus para a humanidade.

Por ser moral significa que o pecado não é uma calamidade que sobreveio inadvertidamente ao homem, envenenando sua vida e arruinando sua felicidade, mas sim um curso que o homem decidiu seguir de vontade própria e que transforma a sua vida em uma verdadeira miséria. É algo parecido com histórias que ouvimos de jovens de classe média alta que se envolvem no mundo do crime sem nenhuma razão aparente, somente para confirmar seu desvio moral. Também, o pecado não é uma coisa passiva, como um defeito de fábrica, uma fraqueza, ou uma imperfeição sobre a qual não tivemos controle e em que podemos responsabilizar. O pecado é resultado de uma escolha livre, porém má, do homem.

A visão bíblica sobre o pecado diz que o pecado tem caráter absoluto, ou seja, uma pessoa não pode ser um pouco boa ou um pouco má. O pecado determina absolutamente a maldade numa pessoa e o que muda é somente a intensidade desta maldade. Uma pessoa moralmente boa não se torna má por uma diminuição em sua bondade, mas por uma mudança qualitativa radical, por voltar completamente ao pecado. Por isso o pecado não é um gral menor de bondade, mas mal positivo.

O pecado também sempre tem relação com Deus. Todo pecado cometido é cometido contra Deus, ainda que não prejudique diretamente nenhuma outra pessoa ou a nós mesmos, porque o pecado é a transgressão da lei de Deus e não da nossa. Isso nos leva a reconhecer que todo pecado acarreta uma culpa e uma penalidade. A culpa é o estado de merecimento da condenação ou de ser passível de punição pela violação de uma lei. Isto é, Deus criou o ser humano e determinou como esse deveria funcionar. Essa lei de Deus determina o que é ser “ser humano de verdade”por isso podemos chamá-la de “Lei da vida” porque romper com essa lei, assim como romper com as leis da natureza provoca resultados inevitáveis e a pena ou a conseqüência para a quebra da lei de Deus é a morte, como diz Romanos 6.23 “porque o salário do pecado é a morte”. Logo, o resultado do pecado é a morte espiritual eterna e cada pecado que cometemos é a prova de que estamos mortos espiritualmente, que somos incapazes de fazer o bem moral que Deus exige e incapazes de agradar a Deus em qualquer aspecto. O pecado domina tão inteiramente o ser humano que podemos dizer que não há nada que o ser humano faça que não esteja marcado pelo pecado, até porque pecados não são apenas atos patentes, mas sim todos os hábitos e uma condição pecaminosa que o homem experimenta, bem como pensamentos e desejos, já que para Deus que é espírito, pensamentos são atos. Logo, o homem não é pecador porque peca, mas peca porque é pecador. O ato é uma conseqüência de sua natureza e não a causa dela, como o leão, que não é leão só porque ruge, mas que ruge porque é leão.

Os Sete Pecados

A origem da tradição da virtude e do vicio procede tanto de filósofos gregos e romanos como do Antigo e do Novo Testamento. Com a convergência destas duas correntes de entendimento moral a concordância geral era de que as virtudes e os vícios seriam os traços característicos mais predominantes ou as tendências humanas universais das quais resultam toda maldade e bondade. Assim, essa tradição de virtude e vicio contribuiu profundamente, tanto na teoria como na pratica para a definição ocidental do que significa ser humano.

A classificação cristã dos sete pecados teve início no movimento monástico cristão no deserto do Egito e era basicamente uma lista de vícios que afligiam a comunidade monástica. Com o tempo houve uma evolução no conceito e na lista dos pecados relacionados, tendo sido levada para o Ocidente por John Cassian de Marseilles, onde esta lista recebeu sua formulação clássica pelo papa Gregório Magno no século VI. Desde então, a lista dos sete pecados saiu do meio monástico e ganhou o mundo, passando a ser compreendida como perigos morais da alma em meio à vida diária.

De alguma maneira nós podemos perceber que estes sete pecados estão relacionados entre si. E primeiramente, na visão cristã, o amor é o centro de todas as virtudes e vícios. Enquanto as virtudes se derivam da disposição apropriada do amor os vícios derivam de um amor doentio. Um exemplo seria a raiva, que é o amor deturpado, porque é o amor direcionado a um objeto respeitável (ele mesmo), mas de maneira ilusória (por meio da raiva da outra pessoa).

Numa perspectiva evangélica os sete pecados capitais, como são tradicionalmente conhecidos, representam tão somente uma sistematização dos vários pecados humanos ou de certa forma, uma análise da rebelião do ser humano contra Deus. Desta forma, os sete pecados representam não pecados maiores, mais matrizes, dos quais derivam os outros.

Também, tradicionalmente se compara os sete vícios com as sete virtudes (prudência, constância, temperança, justiça, fé, esperança e amor). Até como uma demonstração da tendência pecaminosa do ser humano, é muito mais comum ver referencias aos sete pecados, esquecendo-se das virtudes. Creio que um melhor contraste com os sete pecados capitais oferece as sete bem-aventuranças que Jesus apresentou no Sermão do Monte (Mateus 5.1-12). Peter Kreeft, professor de filosofia do Boston College apresenta uma tabela com os pecados contrastados com as virtudes:

· Orgulho (autodistinção) – Pobreza de Espírito (humildade, abnegação)

· Inveja (ressentimento apara com a felicidade dos outros – Lamento (solidariedade com a tristeza dos outros

· Raiva (desejo de dano e destruição para os outros) – Mansidão (recusa de prejudicar os outros, pacificação)

· Preguiça (letargia para com Deus, o Bem e o Ideal) – Fome e Sede de Justiça (paixão e procura por Deus, pelo bem e pelo ideal)

· Avareza (poder centrífugo para agarrar e se apegar aos bens do mundo) – Misericórdia (extensão centrípeta para compartilhar com outros, até mesmo com os que não merecem)

· Glutonaria (impulso de consumir quantidade exagerada de coisas materiais) – Os Perseguidos (dedicação capaz de superar privações até mesmo de necessidades básicas)

· Libertinagem (desejo desordenado e devasso por qualquer corpo atraente) – Pureza de Coração (desejo verdadeiro por Deus que centraliza e unifica a alma)

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